terça-feira, 21 de abril de 2009

Estudo relaciona depressão a excesso de exposição à tevê

Reportagem Rodrigo Capelo/MBPressPortal
Você com mais tempo São Paulo/SP, 27.03.2009
Pesquisa realizada na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostra que adolescentes viciados em televisão sofrem de distúrbios depressivos no início da vida adulta. Saiba como o tempo de exposição à tela pode afetar a gestão do tempo e prejudicar o desempenho profissional.

O tempo gasto por rapazes com a televisão faz com que estejam propensos a entrar em depressão no início da idade adulta. Esta foi a conclusão de um estudo feito por Brian Primack, professor da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Ele acompanhou cerca de 4 mil adolescentes por sete anos e constatou que, entre outros fatores, apenas os meninos foram afetados. Será que os resultados também refletem a realidade dos adultos?

Em entrevista exclusiva ao site Você com mais Tempo, Brian Primack explica que a depressão por excesso de horas de televisão pode afetar os adultos de duas formas. “Uma delas é quando a pessoa gasta muito tempo com a tevê e poderia utilizá-lo em atividades mais proveitosas”, diz. “A outra possibilidade é ver imagens negativas repetidamente, como tragédias e mortes, e sentir-se ansioso ou depressivo em relação ao mundo.”

Acerca do sexo do universo pesquisado, Primack argumenta que as meninas, por terem vida social ativa e mais amigas, não são tão vulneráveis à depressão devido ao excesso de tevê quanto os garotos. No entanto, ele não garante que os mesmos resultados possam ser encontrados em adultos. “Acredito que, entre homens e mulheres, esta teoria não se aplique”, diz.

A gestão do tempo, de acordo com Primack, é diretamente prejudicada pelo excesso de horas de televisão. “Quando alguém assiste à tevê por muito tempo, ganha a sensação de que todos os problemas podem ser resolvidos em um programa de 30 ou 60 minutos”, afirma.

Segundo o pesquisador norte-americano, as pessoas criam expectativas irreais e, além de afetarem a administração do tempo, também perdem produtividade no âmbito profissional. Ele crê que “o excesso de televisão pode criar uma visão pessimista e, assim, desenvolver interpretações erradas sobre altos e baixos, comuns em qualquer situação de trabalho.”

Resultados questionáveis

A pesquisa de Brian Primack, recém-divulgada pelo jornal americano The New York Times, não é completamente aceita por especialistas. O psicólogo brasileiro Márcio Roberto Regis afirma que é difícil basear-se nos resultados, pois as circunstâncias não são conhecidas. “Em sete anos ocorrem muitas mudanças nas vidas dos adolescentes. Ainda mais por ser uma fase da vida completamente instável”, argumenta.

As transformações biológicas, físicas, psicológicas e sociais sofridas pelos jovens analisados, segundo ele, podem “interferir na dinâmica da metodologia científica e fidedignidade dos resultados obtidos.” Este, no entanto, não foi o único fator questionado pelo psicólogo.
Isso porque a pesquisa concluiu que rádios, computadores e videogames não causam o mesmo efeito que a televisão. A interpretação de Primack é de que esses aparelhos podem ser utilizados em “plano de fundo”. Em outras palavras, enquanto ouvem o rádio ou acessam a internet, as pessoas podem fazer atividades de cunho social.

Roberto Regis discorda. “A possibilidade de um adolescente desenvolver depressão é muito maior na frente de computadores e videogames do que em tevê”, prossegue. Para ele, muitos jovens utilizam esses equipamentos sozinhos e, portanto, a depressão surge devido ao comportamento de isolar-se.

No entanto, o especialista em psicologia clínica comportamental, assim como Primack, diz que a depressão causada pela tevê depende do contexto em que as pessoas estão inseridas. “Existe a possibilidade de o telespectador identificar-se com uma tragédia noticiada na televisão e gerar angústia”, explica. Desta forma, ele estaria desenvolvendo a depressão. “Ninguém está imune”, completa.

Já na opinião do psicólogo e psicanalista Ronaldo de Matos, a televisão não é a culpada pela depressão. Para ele, o aparelho apenas desperta sentimentos existentes no subconsciente das pessoas. “A tevê pode manifestar algo que já está no sujeito, mesmo que ele não saiba ou não compreenda como foi parar lá”, argumenta.

Matos acredita, também, que a tevê é uma válvula de escape para os problemas cotidianos. Assim, sugere que as pessoas são induzidas pela sociedade a fugir dos contratempos e satisfazer vontades pelo caminho mais cômodo, nem que isso signifique passar horas à frente da telinha. “Quando olhamos para ela, vemos algo que nos identifica, que nos faz esquecer nossas frustrações por alguns momentos”, conclui.

Autor: Rodrigo Capelo/MBPress
Entrevista publicada originalmente no dia 27 março 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário